Comentários – Uma memória de Jane Austen – por James Edward Austen-Leigh

Foto particular de meus arquivos

Uma memória de Jane Austen

AUSTEN LEIGH, James Edward, 1798-1874. Uma memória de Jane Austen. Tradução de José Loureiro e Stephanie Savalla. Domingos Martins, ES: Pedra Azul, 2014.

Quem já leu Jane Austen com certeza ama com todo o coração ou ignora totalmente. Eu por exemplo, me cativei e tenho lido e pesquisado muito sobre a autora desde o nosso primeiro contato. Essa biografia em si já estava á procura desde 2012 e havia lido alguns trechos em inglês do manuscrito que havia encontrado disponível na internet.

Quero num primeiro momento mencionar os aspectos do livro e de sua organização. Como todos devem ter conhecimento ou ao menos supor, o livro é escrito por seu sobrinho James Edward, considerado por ela um sobrinho querido, do qual troca muitas cartas (algumas contidas nesta biografia inclusive). James organiza as memórias que têm da tia e as compila após mais de 50 anos de sua morte por pedido dos próprios familiares quando percebe que a Jane não é só a tia Jane, mas é reconhecida como um patrimônio da Inglaterra e hoje do mundo inteiro.

O livro é organizado por capítulos e contêm diversas ilustrações dos locais por onde Jane morou, cartas, igrejas, objetos, etc. A escrita é graciosa e afetuosa, e como não podia se esperar menos de um Austen, também é de uma eloquência e bom gosto.

O autor não se exime de sua condição de admiração eterna pela tia e admite que suas lembranças sejam permeadas por essas impressões de sobrinho que ama muito sua tia. No primeiro capítulo ele reserva a falar sobre os laços familiares e a influência que a família de JA teve em seus escritos, no segundo capítulo ele narra de forma bem descritiva a Steventon que foi palco da vida da escritora, no terceiro capítulo fala sobre suas primeiras composições, no quarto sobre sua mudança para Bath, no quinto uma descrição da pessoa da Jane Austen, sua personalidade e gostos, no sexto aborda sobre os interesses da autora no sucesso de seus trabalhos e a retomada de seus trabalhos após o longo intervalo, no sétimo aborda sobre as correspondências de Mr. Clarke e as sugestões que o mesmo faz para que Jane mudasse seu estilo de escrita, o qual ela desencoraja em grande estilo. Nestes trechos destas cartas é possível notar a sagacidade, sarcasmo e personalidade forte que a autora tinha e não se deixava influenciar por elogios e intromissões de pessoas da mais alta classe social. Ela gostava do que fazia e expressa que jamais escreveria sobre algo que não conhece ou que não domina. Além de muito inteligente, Jane também é bastante modesta e adorava enfatizar que nada sabia e era a mais ignorante das criaturas.

Já no oitavo, nono e décimo capítulo James trás relatos sobre o crescimento de sua fama após a publicação de Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, a forma como Jane lidava com ela, a busca de Jane por resgatar o manuscrito A abadia de Northanger, rejeitado por uma editora, é uma passagem até engraçada, pois ao resgatar o manuscrito seu irmão enfatiza que se tratava da autora de Orgulho e Preconceito (imaginem a cara do editor). Nestes capítulos também é tratado sobre a opinião dos leitores norte-americanos. Já no capítulo onze é abordado sobre o declínio da saúde dela e como ela luta para manter o bom humor mesmo nas horas mais complicadas.

O décimo segundo capítulo é um mimo para todo fã de Jane Austen, pois se trata nada mais nada menos que o capítulo cancelado de Persuasão. O décimo terceiro capítulo são trechos e explicações sobre o manuscrito do qual Jane escrevia quando veio a falecer, a história dos Sanditon e o último capítulo é o epílogo e por fins alguns anexos de trabalho realizado por Jane Austen no seu tempo de juventude.

Todos os capítulos o autor apresenta trechos de cartas ou fragmentos de manuscritos que foram recuperados por ele e a família após a morte de Jane Austen. Alguns relatos de outras sobrinhas e amigos da tia também são apresentados para compor essa biografia tão singela e carinhosa.

Quem procura uma obra minuciosa em detalhes sobre a vida de Jane Austen, seus romances, ou algo que ainda não se tenha conhecimento com certeza não irá se agradar da leitura. Eu, em particular, me senti envolvida com cada página e as leituras das cartas de Jane a sua irmã Cassandra parecia que podia vê-la sentada em sua escrivaninha. O estilo da escrita mesmo que doméstica, como uma carta de agradecimento ou para contar alguma novidade, era sempre recheada de bom humor e um inteligente uso das palavras e por vezes até poético e romântico.

Agora minha espera será para ler as cartas de Jane Austen que ainda não tenho conhecimento se já foi lançado no Brasil. Após a leitura desta biografia senti vontade de reler As memórias perdidas de Jane Austen, de Syrie James, uma autora e pesquisadora de grandes nomes da literatura que escreveu uma história ficcional da vida da Jane Austen tão bem escrito, que há momentos que você acredita mesmo que foram escritos pela própria Jane.

Um trecho de James Edward sobre o seu legado de escrever sobre a tia:

[…] foi-me necessário recorrer às lembranças ao invés de documentos escritos para gerar meu material; enquanto o mesmo me supria com nada de impactante ou proeminente com o que eu pudesse prender a atenção do leitor. Alguns dizem que os indivíduos mais felizes, como as nações durante seus períodos mais felizes, não tem história. No caso de minha tia, não apenas o curso de sua vida foi tão invariável, mas seu próprio temperamento era notavelmente calmo e plano. Não havia nela nada excêntrico ou angular; nenhuma rugosidade de gênio; nenhuma singularidade em seus modos; nem morbidez alguma em sua sensibilidade ou exagero em seus sentimentos – características que costumam acompanhar grandes talentos – a serem trabalhados em seu retrato. Sua mente era bem equilibrada sobre uma base de bom-senso, adoçada por um coração afetuoso e regulada por princípios estabelecidos; podendo ser, assim, distinguida de várias outras mulheres amáveis e sensatas apenas pelo gênio peculiar que reluz de forma clara o suficiente em seus trabalhos, mas do qual um biografo pode fazer pouco uso (AUSTEN-LEIGH, 2014, p. 206).

Ótimas leituras

Por Laynne Cris

Sobre laynnecris

Sou Elaine C. Andrade. Hoje (2018) tenho 39 anos. Sou apaixonada pela leitura e por escrever. Sou formada em Pedagogia e pretendo me especializar em Inglês, alfabetização e o Ensino da Língua Portuguesa para estrangeiros. Tenho uma fascinação por músicas e Inglês. Atualmente tenho me dedicado muito na busca da fluência e sou professora alfabetizadora. Tenho como meta conseguir certificação internacional e no futuro morar fora um tempinho. A leitura é para mim um meio muito prazeroso de poder atingir locais e lugares inimagináveis, além de ser uma terapia e uma fonte de conhecimento sem fim. E quando aprendemos nos proporcionar esses momentos para entretenimento, ler torna-se uma atividade necessária para o dia a dia. Também gosto de desenhar, colorir, ouvir músicas. No entanto, faço com menos frequência (só quando surge aquela vontade enorme ou sobra um tempinho). Agora ler nunca estou sem ler algo e onde vou tenho um livro comigo. Me sinto mal se não posso ler. É uma necessidade. Embora ultimamente tenho lido mais livros técnicos e materiais em Inglês. Nasci em Suzano e atualmente moro num bairro de Mogi das Cruzes e estou aprendendo a me adaptar por aqui. Também adoro participar de comunidades de leitura no facebook e canais literários do youtube. Conhecer pessoas, descobrir novos talentos e as vezes encontramos pessoas muito maravilhosas. Enfim, sou uma mulher e profissional comprometida e apaixonada pelo que faço, amo minha minha família, meus gatos e amigos mais que tudo neste mundo. "Que aonde eu passar eu faço amigos e possa agregar valores e aprender também". Laynne Cris
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