Vidas Cruzadas (parte 3)
Agosto de 2007
O amanhecer no pequeno povoado de Topázio fazia jus ao nome que recebera. Por entre as montanhas o Sol surgia majestoso, espalhando seus raios brilhantes e envolvendo toda a cidade num tom amarelado e restaurador.
Jane estava sentada em um sofá na varanda de sua casa. Ao lado, sobre a mesa, um pequeno vaso com uma orquídea rosa e uma xícara de chocolate quente, essa emanava uma pequena nuvem esbranquiçada que aos poucos era colorida pelos raios solares que começavam a preencher todo o lugar. Ela percebeu que a claridade aumentava e recostara a cabeça no encosto da poltrona para receber a energia que o amanhecer lhe proporcionava. Ela adorava aquele momento.
Todo domingo sentava-se ali religiosamente para ter o seu momento a sós. Sempre fora apaixonada por ler e por apreciar natureza e particularmente encantava-se com a vista que tinha daquela varanda, principalmente do nascer do sol e do crepúsculo.
Mas, naquela manhã em especial ela sentara-se ali para tentar acalmar seu coração das decisões que deveria tomar em breve. A leitura sempre lhe trouxera paz e equilíbrio e era o que mais precisava para o momento.
Ela acabara de fazer 27 anos, adorava seu trabalho na escola comunitária e amava sua cidade de origem. Mas, desde os últimos acontecimentos, tudo ficou diferente. Jane sentia-se perdida e sozinha. Restava-lhe, guardado em seu coração, um sonho. Este talvez fosse à mão que lhe ajudaria a construir um novo caminho.
Jane inspirou profundamente o ar fresco da manhã e por ora sentia que o coração se acalmara e falou bem baixinho para si mesmo, – “Relaxe Jane! Vai dar tudo certo, o pior já passou!”.
Ela relaxou os ombros e apoiara o livro sob o braço da cadeira e seus olhos retomaram o trecho que lia. Sorveu um pouco do chocolate quente, acomodou-se melhor na poltrona e simplesmente envolveu-se com a leitura.
[…] Não consigo mais ouvir em silêncio. Tenho que falar com você com os meios que estão ao meu alcance. Você trespassa a minha alma. Sou agonia e esperança. Não me diga que é tarde demais, que tais preciosos sentimentos se foram para sempre. Eu volto a me oferecer a você, com um coração ainda mais seu do que quando quase o partiu, oito anos e meio atrás. Não ouse dizer que os homens esquecem mais rápido do que as mulheres, que o amor deles morre mais cedo. Só a você tenho amado. Posso ter sido injusto, fui fraco e ressentido, mas nunca inconstante. Só por você vim a Bath. Só por você eu penso e faço planos. Será que você não viu? Será que você não conseguiu entender meus desejos? Não teria esperado nem dez dias se tivesse podido ler os seus sentimentos, como acho que você entendeu os meus. Mal consigo escrever. Estou a cada instante ouvindo coisas que me esmagam. Você abaixa a voz, mas posso distinguir tons nessa voz que aos poucos passariam despercebidos. Criatura excessivamente boa, excessivamente excelente! Você nos faz justiça, sem dúvida. Acredita que o verdadeiro afeto e constância existam entre os homens. Creia que tal afeto é mais do que o fervoroso e mais do que constante em
F.W[…]
Jane Winston permitiu-se concluir a leitura do parágrafo, antes de parar para atender ao celular que tremulava na mesinha ao lado da xícara de chocolate e quase caiu no chão.
Apesar do número desconhecido, ela decidiu atender. Do outro lado da linha uma voz rouca lhe saudava.
– Bom dia! Senhorita Jane Winston?
– Sim, sou eu!
– Olá, sou Oscar. Você me mandou um vídeo de uma apresentação sua no início deste ano. Gostaria de saber se ainda tem interesse em tocar em um barzinho? Tenho uma vaga para as noites de sexta-feira.
Jane sentiu como se o ar lhe fosse retirado dos pulmões. A mão que antes segurava o livro, agora o apertava contra ao peito, numa intenção de conter o grito de alegria que se formava dentro de si. Para ela esse contato seria um sinal de que suas decisões haviam sido abençoadas. Sempre tivera um sonho de tocar para um público adulto, de conhecer uma nova cidade, de fazer novos amigos e agora ela começava acreditar que tudo isso podia se realizar em breve.
Tocar em um bar não era muito para sobreviver na cidade, mas parecia-lhe um bom começo e ainda podia trabalhar em alguma escola. Seria esse o primeiro passo para uma nova chance em sua vida. Mal conseguia colocar os pensamentos em ordem e ao fundo podia ouvir que o homem ainda falava. Retornou com esforço à atenção para a voz daquele senhor.
– Senhorita Jane, não precisa decidir agora. Entendo que possa ter demorado e que tenha compromissos.
– Não. Não, claro que não. Eu aceito sim, sua oferta. Só me passe ás informações, o dia, o local e quando deverei começar.
– Muito bem. Preciso de um e-mail para que minha secretária possa lhe enviar todas essas informações e outras mais que forem necessárias.
Jane devolveu o celular na mesa ao lado depois de concluída as negociações com o Sr. Oscar. Ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo, sentiu a necessidade de falar com alguém, de contar o quanto estava se sentindo contente com a ideia de ir para outra cidade e poder recomeçar sua vida do zero.
Seus olhos encheram-se de lágrimas ao imaginar o quanto a mãe e o pai ficariam felizes por ela. Eles sempre a apoiaram em tudo, sempre acreditaram que o talento da filha era um dom especial.
Jane balançou a cabeça numa tentativa de livrar-se da angústia que ameaçava querer lhe tocar. Prometera a si mesma que só se lembraria dos bons momentos, das recordações de uma vida em que fora feliz ao lado da família.
Ela acreditava que os pais gostariam que fossem lembrados com alegria e que continuasse a vida como se por eles também, e dentro do coração ela podia sentir que recebia a aprovação deles.
Decidida, deixou o livro sobre o sofá e caminhou para dentro de casa até a sala, sentou-se ao piano e num sorriso emocionado falou: “Mãe, Pai! Vocês sentirão orgulho da sua filha aonde quer que estejam!” – dedilhou suavemente uma peça, que era a preferida da mãe, o cânone em ré maior de Pachelbel.
Melodia
Canon in D mayor – Pachebel
Excelente. Só falta publicar.
Um grande beijo.
Alex
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Obrigada… ❤
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Laynne,
Eu te indiquei para a TAG Irmandade dos Blogueiros do mundo.
http://reflexoeseangustias.com/2015/10/04/sisterhood-of-the-world-bloggers/
Beijo!
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Oi, Silvia. Já respondi essa tag… mas, suas perguntas sou fofa. Vou incluir numas tag’s que tenho que responder e logo tentarei por em dia…. Beijão
Carinhosamente
Laynne
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Eu também já tinha respondido.
Se não der, não se preocupe.
Foi mais para citar seu Blog, que é um espaço lindo que eu adoro.
Beijo!
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Eu vou incluir na que estou preparando agora… coincide com o tema… Obrigada pelo carinho. Saiba que é recíproco! Adoro suas reflexões e contos… Um beijão.
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Pingback: Os bastidores do Meu Espaço Literário | Meu Espaço Literário
Olá, Laynne!
Se precisar de ajuda para publicar, conte comigo!
Estou abrindo a votação para capa da Microcontos Volume 2 em breve.
Se você tiver disponibilidade de participar novamente, eu ficaria muito feliz!
Veja meu protótipo:
https://lucaspalhao.wordpress.com/2016/04/22/microcontos-volume-2-prototipo-da-capa/
Abração e obrigado por fazer parte da antologia.
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Oi, querido Lucas… desculpe a longa demora para ver os comentários… Agora que estou olhando os comentários do blog. Estava numa maratona de encerramento de semestre e planejamentos… tem sido bem corrido… Mas, poxa fico lisonjeada com seu gesto.
Abraços
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Imagine!
Pode contar sempre comigo.
Que bom que você está voltando para blogosfera.
Um abraço,
Lucas Palhão
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É algo tipo um pé aqui e ali, né… Mas, vou tentar ao menos por em dia umas coisas…
Valeu
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